sexta-feira, 27 de dezembro de 2013

Culpada! - A inocência nunca existiu. Parte II


Parte II
______________________________________________________________
 Ela começara a descobrir quem era e o que precisava fazer para conseguir o que queria...
_______________________________________________________________

Cheguei a passar fome, frio, calor e tudo mais o que você pode imaginar quando aquele dinheiro acabou. Eu não tinha mais nada para pagar hospedagem e ninguém queria dar emprego a uma menor de idade. Tolice a minha em acreditar que minha vida seria melhor em outra cidade, talvez, eu tivesse que aceitar meu destino de ser infeliz, isso se a felicidade existisse, confesso que duvidei diversas vezes.
Certa vez quando estava tentando me proteger da chuva embaixo de uma árvore uma senhora que devia ter cerca de 30 anos resolveu me levar para a sua casa e me acolher.

“Qual o seu nome, garotinha? Por que estava embaixo da árvore nesse temporal? Cadê seus pais?” – disse a senhora e tudo que eu pude responder foi um frio “Estão mortos”.

Quando você cresce sendo menosprezada e odiada, você adquire a frieza como uma característica acentuada.

Eu vivi com aquela senhora e seu marido por três anos e pela primeira vez, eu tive uma família. Era inacreditável o carinho que eles tiveram por mim e eu por eles. Quando completei 18 anos já havia terminado o Ensino Médio com notas gloriosas, eu gostava de estudar, os livros foram meus únicos amigos durante anos. Eu pretendia me formar e ser uma grande psicóloga.
Mas, tudo mudou quando a senhora Silva e seu marido morreram em um grave acidente de carro e mais uma vez, eu estava sozinha. Não sabia se poderia permanecer naquela casa, afinal, eu não era filha deles. O real herdeiro estava concluindo seu estudo no exterior e devia retornar e tomar posse da casa em algumas semanas.
Eu tinha arrumado um emprego em uma lanchonete e sempre conseguia muitas gorjetas creio eu que devido a minha aparência.

- Ei, ei.. Elizabeth, vem aqui. Você é muito bonita, sabia? Quanto você ganha trabalhando aqui?
- Por que a pergunta, senhor?
- Você poderia ter uma vida de luxo se fosse a minha namorada.
Eu pensei por um segundo e de início achei uma proposta estúpida, mas aquele senhor que devia ter cerca de 40 anos estava oferecendo dinheiro para namorá-lo, eu estava sem casa e com um emprego – que mesmo com as muitas gorjetas-  mal dava pra pagar uma boa hospedagem. Que mal faria em aceitar a proposta?
- Pode ser. Este é meu número – entreguei um papel que costumava anotar os pedidos- me liga.

À noite no fim do meu expediente, eu recebi um telefonema do senhor Fernandes me convidando para jantar e eu aceitei.
. . . . . . . . . . . . . .

Dois meses depois eu realmente tinha uma vida de luxo, a casa em que morávamos tinha três andares, tantos quartos que até hoje não sei o certo quantos eram. Eu ganhava várias joias por semanas, e uma grande mesada para gastar com compras. Eu tinha o luxo que sempre sonhei. Ítalo Fernandes me tratava com respeito e amor, e eu fingia amá-lo também, mas estava tendo um caso com Carlos um jovem de 21 anos filho de um dos amigos de Fernandes.
Carlos era alto, loiro, um físico atlético, um rapaz muito interessante, eu diria até apaixonável se não fosse pelas suas conversas vazias. Ele vivia dizendo que me amava e implorou diversas vezes para eu ficar com ele, mas eu também não era apaixonada por ele, nossa relação era apenas para compensar a falta de atração que eu sentia pelo meu namorado e havia outro detalhe: ele não era rico como Fernandes.

Dinheiro, joias, luxo – Nem percebi quando me tornei tão interesseira.

Durante meu namoro com Ítalo eu tive rápidos relacionamentos com Ricardo, Felipe, Douglas, Leonardo e Tiago, sem esquecer, de Carlos. Todos eles me deram dinheiro e prazer. Eu já era rica o suficiente, então, resolvi livrar-me daquele velho que eu já não suportava mais olhar, que dirá tocar.

- Fernandes, nosso namoro acabou, já arrumei meus pertences e estou indo embora.
- Você ficou louca?
- Não, apenas cansei de você.
- HÃ? O QUÊ? MAS EU TE DOU UMA VIDA DE RAINHA... VOCÊ... VOCÊ NÃO PODE ME DEIXAR! EU AMO VOCÊ.
- Tanto posso quanto vou. Cuide-se.

A frieza com que eu disse aquelas palavras fez aquele velho passar mal, acho que foi um ataque do coração, não sei ao certo. Quando fui embora ele estava desmaiado  no chão, eu poderia ter socorrido ou ligado para uma ambulância, mas não o fiz.
Dias depois, Carlos que ainda insistia em me ligar disse-me que Fernandes havia morrido e pensou que agora eu ficaria com ele, tolinho, eu estava me mudando para outro país.


“Sou uma nômade, destruidora de corações e ímã de desgraças. Quantas mortes aconteceriam com minha chegada? Será que a culpa era minha ou era coisa do destino? Culpada!” eu disse e sorri.

Nenhum comentário:

Postar um comentário